Olá,
Entrar no Westlake Studio D no início de 1987 é um pouco surreal na minha memória. Eu tinha apenas 24 anos e Michael 29. O estúdio D ficava no final de um longo corredor, com um pequeno armário do zelador à direita. Eu conhecia aquele armário muito bem, pois nos primeiros dias no Westlake eu passava aspirador de pó, limpava os vasos sanitários e estocava a máquina de Coca-Cola.

Conforme você caminhava pelo armário em direção ao “D”, você podia ouvir e quase sentir as frequências vindas dos enormes alto-falantes SM-1.
Nesse dia, a equipe estava trabalhando em uma música chamada “Hot Fever”, que eventualmente o nome mudaria para “The Way You Make Me Feel”. Você de longe poderia ouvir o: bum-bum-bum-bum-bum-bum-bum-bum … e saber que quando abrisse a enorme porta do estúdio o som explodiria. Era energizante. Abri a porta e levou alguns segundos para meus ouvidos se costumar com o volume.
Michael estava sentado no centro do console segurando o controle de volume. Bruce conversava com Bea ao telefone e Rod e Quincy estava na cozinha comendo sanduíches de frango que o chef havia preparado. Eles eram incríveis! Este era o meu lugar.
Bruce e Michael deixaram claro que eu poderia passar o tempo que quisesse assistindo e aprendendo com eles, sempre que não fosse designado para outras sessões, então o Studio D se tornou a melhor escola que frequentei, com os melhores professores que você poderia imaginar.
Naquela noite Michael iria gravar os vocais — meu momento favorito da sessão. Não era permitidos convidados nos dias de vocal, mas o Studio D tinha uma sala de controle enorme, então a qualquer momento você provavelmente encontraria Quincy, Bruce e Rod Temperton, junto com alguns outros assistentes — e eu. Bill Bray ou Miko Brando costumavam estar na sala dos fundos, rindo e brincando. (O Estúdio D foi construído especificamente para o álbum do MJ. O Estúdio A (em outro prédio) foi onde “Thriller” foi gravado e mixado, mas Bruce queria um espaço maior para o novo álbum, então Westlake construiu o enorme Estúdio D.
Tudo parecia certo. Michael se preparava para começar a cantar, fiz alguns ajustes de última hora:
Teste e limpe os fones de ouvido; aqueça a água no micro-ondas e encha uma jarra. Nada de chá, nada de especial, apenas água quente; ligue o aquecedor, pois ele gostava que o ambiente fosse quente quando cantava, (ele estava sempre com frio); desligue todas as luzes do estúdio (exceto a sala de controle), e a luz do suporte da partitura.
E teste o microfone.
Agora está tudo pronto para começar.
Michael entra no estúdio e nós brincamos como sempre. Ele tinha algumas letras em um bloco de notas em sua mão, junto com uma revista Life. Na semana anterior, ele trouxe o chimpanzé Bubbles e me pediu para segurá-lo enquanto ele cantava. Como esta foi a minha primeira vez segurando um chimpanzé, foi uma mistura de emoção e medo, saber e sentir o quão forte ele era em meus braços. Mas hoje Bubbles vive em um cativeiro em meio a vários chimpanzés. Peguei uma xícara de café para mim e outra para Bruce e sentei no fundo da sala de controle.
Bum-bum-bum-bum-bum-bum-bum …
Essa incrível introdução começou a tocar…
Hey, pretty baby with the high heels on
You give me fever like I’ve never, ever known
You’re just a product of loveliness
I like the groove of your walk, your talk, your dress…
Tomei um gole do meu café, totalmente ciente de que estava assistindo e ouvindo um mestre trabalhando.
Michael começou a rir e Bruce parou a gravação.
“Vamos pegar isso no compasso 32!” Bruce instruiu no microfone.
Michael era como uma máquina, ele cantava tomada após tomada, cada uma mais perfeita do que a outra. Sério, perfeito.
Você podia ouvir sua dança através do microfone — ele nunca parava de se mover.
De vez em quando, ele enchia sua caneca com mais água quente e continuava a cantar.
Ele nunca parava de dar risada.
Nunca parava de cantar.
A magia nunca parou.
Bruce administrou a sessão como um comandante da Marinha, parecendo fácil, mas não era.
A música era longa. Muito longa, quase nove minutos de duração.
Bruce tinha decidido desde o início do projeto que as canções seriam longas para que tivéssemos material suficiente para criar mixagens de vídeo, mixagens internacionais, o que a gravadora quisesse — desde o início. Então Michael cantava toda a duração da música.
Nós não trapaceamos e copiamos / colamos vocais (às vezes chamados de vocais “voadores”), ao invés disso, Michael cantou cada linha e frase repetidamente.
Nessa noite em particular, Michael cantou por mais de duas horas, parando apenas para ir ao banheiro.
Assim que Bruce ficou satisfeito de que tínhamos bastante takes para trabalhar, ele chamou Michael para ouvir.
Michael aumentou o volume ao máximo e tocamos a fita.
Os gigantescos alto-falantes SM-1 ganharam vida, tocando a música como se quisessem te machucar. Incrivelmente alto.
Ain’t nobody’s business (the way you make me feel)
Ain’t nobody’s business
Ain’t nobody’s business
Ain’t nobody’s business (you really turn me on)
Michael estava feliz, pulou e começou a dançar.
Bruce, Rod e Quincy riam.
A sala estava tremendo a ponto de você ouvir as luminárias chacoalhando no teto.
Lyllyan
Fonte: MJBeats