Olá,
Ter ideias boas e ruins é algo normal na televisão. Luiz Bacci, no entanto, teve uma péssima ideia e resolveu levá-la ao ar. O nome dessa péssima ideia é “Tá na Tela” e pode ser vista de segunda a sexta, das 15h30 às 17h, na Band. O programa de Bacci é um prato cheíssimo, transbordante mesmo, para aqueles que acusam o jornalismo de ir de mal a pior.
Luiz Bacci, 30 anos, é dono de uma carreira impressionante: com 13 anos foi apresentador do “Domingo no Palco”, o segmento infantil do programa “Domingo Milionário” da extinta TV Manchete. Em 2006 ingressou no SBT, onde foi repórter do “SBT Repórter” e “SBT Brasil” e apresentador do “Fantasia”, “Aqui Agora” e “SBT Rio”. Silvio Santos chegou a declarar que ele era o apresentador mais promissor da TV.
E tanto era verdade que, em 2010, a Record o arrancou da emissora de Silvio. No canal do bispo Macedo, Bacci se tornou um apresentador esporádico do “Balanço Geral RJ” e do “Cidade Alerta”.Foi quando Marcelo Rezende o apelidou de “Menino de Ouro”. Então Bacci virou apresentador do “Cidade Alerta RJ” e do “Balanço Geral SP”. Depois de três meses no “Balanço” foi contratado pela Band ao peso milionário de uma rescisão calculada em R$5 milhões. Realmente um Menino de Ouro.
Pois bem, e nessa curta e vitoriosa trajetória, eis aqui nosso “golden boy” com um programa que nada tem de dourado ou precioso.
A, hum, “ideia” de “Tá na Tela” é unir o sensacionalismo já praticado em “Balanço Geral” com um programa de auditório cuja plateia é composta apenas por mulheres(provavelmente a plateia mais desanimada da TV brasileira; mas não podemos culpa-la).
Não entremos no mérito sobre o mundo-cão ali exibido – com destaque para uma operação mediúnica cujas imagens de péssimo gosto foram exibidas em detalhes. Nem vamos falar dos números de audiência: segundo a medição, o programa alcançou a vice-liderança do horário, com uma média de 4 pontos. “Tá na Tela” poderia ter alcançado 30, 40 pontos e isso não faria dele uma atração melhor.O grande, enorme, gigantesco problema do programa é outro: a ética jornalística.
Comecemos pelo mais leve e avancemos para o mais grave – se é que existe gradação em termos éticos.
Em sua estreia, Bacci vendeu como exclusiva uma reportagem sobre o paradeiro de Hilda Furacão, a lendária cortesã eternizada por Ana Paula Arósio na minissérie “Hilda Furacão”. O “Menino de Ouro” alardeou tratar-se de matéria batalhada por sua equipe. Ocorre que, um dia antes, o “Fantástico” havia mostrado a mesma reportagem. Bacci chegou a insinuar que a revista dominical da Globo havia visto a chamada de seu programa e enviado uma equipe às pressas para fazer a mesma reportagem. Em momento algum, porém, mencionou o fato que a história de Hilda, atualmente vivendo em um asilo em Buenos Aires, havia sido publicada no jornal “Folha de S. Paulo” dois dias antes da estreia de seu programa.
E então o programa de Bacci percebe haver um link entre o triste paradeiro de Hilda e o de sua intérprete, Ana Paula Arósio. A isso resolveram chamar de “a maldição de Hilda Furacão”. Segundo o raciocínio “jornalístico”, Ana Paula estaria em profunda crise existencial e profissional. Por quê? Porque havia recusado R$ 1 milhão para protagonizar uma novela e se isolado em sua fazenda no interior de São Paulo. Ou seja, não se trata de uma apuração sobre a suposta crise, mas da dedução que só uma pessoa abalada prefere a privacidade em vez de embolsar R$ 1 milhão e viver sob os holofotes. Isso foi dito com todas as letras no programa.
Não satisfeita, a equipe de “Tá na Tela” foi até a fazenda de Ana Paula Arósio e, com uma câmera escondida, ludibriou o caseiro para poder entrar na propriedade. Depois disse que havia passado por “momentos de tensão e perigo” quando o caseiro, ao descobrir que havia sido enganado, partiu para cima da reportagem. Deve-se salientar que, antes disso, a repórter foi até a cidade vizinha à fazenda para perguntar se os moradores costumavam ver a atriz com frequência e se achavam normal alguém recusar R$ 1 milhão para fazer uma novela.
Agora vamos ao caso mais grave. Desde o primeiro momento da estreia, Bacci trombeteou que tinha em mãos um furo jornalístico que iria abalar o Brasil. O tal furo era uma entrevista exclusiva com “o principal suspeito” da morte de MC Daleste, um ídolo do funk ostentação assassinado a tiros em meio a um show em Paulínia, interior de São Paulo, em julho de 2013.
Logo de cara descobre-se que o tal “principal suspeito”, o também funkeiro MC Bio G3, além de não ser principal, é tão suspeito quanto qualquer um com quem Daleste tinha relações. E quem disse que ele era o principal suspeito? Segundo a repórter do programa, “fontes de dentro da polícia”. Ainda segundo a mesma repórter, trata-se de uma “investigação policial que segue em segredo”. Bem, não parece.
Na entrevista com MC Bio G3 que o programa levou ao ar não havia nada de revelador, nenhuma evidência ou indício de que ele poderia ser o assassino. O funkeiro se defendia com tranquilidade dizendo que era suspeito como qualquer um. A reportagem no entanto dizia que, “segundo fontes”, Daleste devia dinheiro para Bio. Uma dívida que o suspeito diz desconhecer.
Para piorar, o programa colocou diante da plateia o pai e o irmão de Daleste, que foram focalizados enquanto a entrevista com MC Bio G3 ia ao ar. Bacci alternava a exploração da comoção dos familiares com animados anúncios de produtos.
O apresentador deixou em suspenso o depoimento do pai e do irmão convidando-os para voltarem no dia seguinte, quando seria apresentada uma foto reveladora e bombástica. A tal foto havia sido passada pela mesma fonte interna da polícia, que, devemos lembrar, investiga o caso há mais de um ano. E também lembremos que a tal foto faz parte dos documentos da investigação que corre “em sigilo”. Pai e irmão de Daleste não apareceram no dia seguinte.
O “Menino de Ouro” passou o programa todo prometendo chocar a plateia (que não esboçou reação alguma ao ver a imagem), o Brasil, o mundo. Com o objetivo de mostrar o quão chocante e reveladora era a tal fotografia, chamou-se uma perita para analisá-la.
E eis que a foto é mostrada no final do programa. Um suspeito apontando a arma? Uma pistola na cintura de alguém? Nada disso. Tratava-se da fotografia de uma geral da plateia e, lá no fundo, quase indefinível, um espectador usando a máscara de Guy Fawkes. Para quem não associou o nome à pessoa, trata-se da máscara que ganhou fama nos recentes protestos que tomaram conta das ruas no País, o V Vingança.
Então a perita foi chamada para dar seu parecer. E você está esperando que ela diga se tratar ou não de uma montagem, que há algo que indique uma atitude suspeita, um volume que denuncie uma arma, certo? Reproduzo aqui o parecer “técnico” da perita: “Trata-se de um jovem entre 18 e 23 anos, que no ano passado usou e abusou dessa máscara. É a máscara do Anonymous”.
A revelação imediatamente se transformou em piada nas redes sociais. Mas, para lá do nonsense e do ridículo, há um gigantesco desserviço em tudo isso. Além, de, obviamente, colocar em risco a vida de MC Bio G3 – por mais que Bacci insista em dizer que ele é “apenas um suspeito”, havia gente no Twitter tratando-o como culpado.
Quisesse fazer jornalismo de verdade a reportagem deveria ter dito que MC Daleste teve problemas com a polícia devido a algumas letras de seus funks (especialmente um intitulado “Apologia”). E deveria dizer que o próprio funkeiro já havia postado uma foto usando a máscara de Guy Fawkes, o que poderia induzir um fã a fazer o mesmo. Deveria dizer também que Daleste havia passado por uma batida policial pouco antes do show e que levou o tiro justamente no momento em que falava sobre o incidente. Não se trata de acusar policiais, mas são fatos relevantes quando você diz que foto e suspeito foram revelados por uma fonte de “dentro da polícia”.
Um conselho para Luiz Bacci: limite-se a reproduzir reportagens sobre a bigamia de homens feios e covers do Zé Ramalho, como foi feito no segundo programa. Caso “Tá na Tela” insista em fazer jornalismo “sério”, é provável que o apelido “Menino de Ouro” seja substituído por “Midas ao Contrário”.
Um programa pior que outro e com sensacionalismo ficar mil vezes pior…
“Tá na Tela” é ridículo demais!
Fonte: Yahoo
O repórter Luiz Bacci é simplesmente fantástico. Assisto sempre o seu novo programa na Tela da Band. Mas venho justamente fazer uma crítica CONSTRUTIVA. A linha do seu programa estava no começo bem diferente. Como exemplo, vou citar aquele que foi feito nos EUA no espaço que era das torres gêmeas (SENSACIONAL), outro exemplo aquele que mostrava a existência de espíritos na nossa vida, mostrando até em fotos que espíritos apareciam (SENSACIONAL).
Mas, de uma hora pra outra, está simplesmente uma Prévia do Brasil Urgente. O programa agora é igual ao do Datena, tirando até um pouco do noticiário do Brasil Urgente.
É um caso a se pensar! Pois, muitos espectadores pensam como eu. Sem mais, Solange Araújo
PS; Gostaria muito de obter uma resposta