Olá,

A morte nem sempre manda aviso-prévio. Se uma celebridade deixa a vida por acidente, como Ayrton Senna e Lady Di, ou por causa inesperada, como Michael Jackson e Amy Winehouse, as redações precisam ter pronto o perfil biográfico do falecido.

Sim, sabemos todos que ninguém é imortal. Em determinado dia, mês e ano, cada um de nós deixará este mundo. O que choca é ver alguém morrer antes do tempo… Sobretudo quando se respira uma cultura de preconceito à velhice.

Chamar, hoje, alguém de velho é uma ofensa. No máximo, admite-se ‘idoso’. E haja eufemismos para qualificar quem passou dos 60: terceira idade, melhor idade.

Como velho que sou, rejeito tais artimanhas da linguagem. Se é para inventar eufemismo, melhor ser realista e considerar nós, velhos, a turma da eterna idade, já que estamos naturalmente mais próximos dela…

Nossa cultura pós-moderna lida muito mal com a morte. Busca ansiosamente o elixir da eterna juventude: academias de ginástica, anabolizantes, macrobiótica, cirurgias plásticas etc.

O mundo desencantou-se, disse Max Weber. Religiões e ideologias estão em crise. Pouco se pergunta pelo sentido desta vida e, portanto, muito menos o que nos espera na outra.

As escolas deveriam educar seus alunos sobre os ritos de passagens inevitáveis ao longo da vida. Eles aprenderiam que a morte não merece credibilidade porque, em si, não existe. Existem a passagem para quem se foi e a perda para quem ficou.

Não gosto do verbo morrer. Prefiro transvivenciar. Por uma questão de fé e sentimento. A vida é um milagre excepcionalmente belo para enclausurar-se nos poucos anos que nos são dados viver. Acredito que, ao sair do casulo, todos haveremos de virar borboletas — o que é ainda mais belo e promissor.

Frei Betto é escritor, autor do romance ‘Minas do Ouro’

Fonte: O Dia IG