Olá,

Colaboradora: Anele

Esse cara tem problema:

Adoraria adentrar ao ano de 2011 escrevendo com esperança a respeito dos rumos do universo musical deste planeta. Afinal de contas, como venho salientando há tempos, nunca na história da Humanidade se ouviu tanta música ao mesmo tempo. Sim, é claro que tem muitas coisas boas e ruins rolando – citei as melhores que ouvi em 2010 em aqui -, mas se existe algo que me tira do sério é a picaretagem, a trapaça, a exploração da ingenuidade alheia visando obter uns trocados e, assim, perpetuar a ignorância e a mediocridade.

Escrevo isto no momento imediatamente posterior a algumas audições atentas de uma das maiores trapaças musicais que já tive o desprazer de ouvir em meio século de vida. Sim, estou me referindo a Michael, o suposto “álbum póstumo” de Michael Jackson.

Ok, o cara morreu e ainda tem gente tentando faturar em cima? Bem, então vamos ao que interessa: este disco inteiro é uma vergonha que nem mesmo o cadáver do Michael Jackson aprovaria se tivesse a oportunidade de opinar.

De cara, não vou conseguir descrever em palavras a sensação de ouvir um disco do Michael Jackson sem o Michael Jackson. Não entendeu? Vou repetir: eu simplesmente duvido que os vocais que se ouvem em cada faixa do disco sejam realmente do cara! Em todas elas há modulações de voz muito esquisitas, vários efeitos que disfarçam os timbres originais – como o Auto Tune – e o uso de divisões de frases que Jackson jamais usou em seus trabalhos anteriores. A impressão que tenho é a de ouvir um ótimo imitador de Jackson – o próprio irmão de Michael, Randy, declarou que um impostor foi usado e teve que ficar quieto quando um advogado da família soltou uma nota oficial desmentindo a declaração.

A coisa já começa a desandar logo na primeira faixa, “Hold My Hand” (veja aqui), um dueto com um dos maiores picaretas do show business, Akon, que soa como se o Backstreet Boys fosse uma black boy band”. “Hollywood Tonight” (veja aqui) é a canção que mais faz por merecer a desconfiança se os vocais presentes no disco são mesmo de Jackson. A voz é bem diferente e a maneira de cantar e dividir as frases parece ter sido feita por outra pessoa imitando a voz do cantor. A mesma sensação voltou a atingir os meus ouvidos em cheio quando uma voz trêmula e com um esquisito vibrato surgiu na pavorosa balada “Keep Your Head Up” (veja aqui). Os parcos sinais de dignidade soul que aparecem em “(I Like) The Way You Love Me” (veja aqui) e em “Best of Joy” (veja aqui) são rapidamente dispersados pela pasteurizada produção da faixa, que vai desde os timbres dos instrumentos até os vocais excessivamente adocicados, transformando tudo em torturante experiência sonora.

Se “Breaking News” (veja aqui) é uma patética tentativa de recriar o clima dançante da boa “Jam”, do disco Dangerous – muito provavelmente pela presença do produtor Teddy Riley -, a coisa ainda fica pior com a presença de outro emérito trambiqueiro sem talento, 50 Cent, na insossa malemolência dançante de “Monster” (veja aqui), que só contribuiu para o enfraquecimento de uma faixa que já nasceu ruim.

As únicas coisas que se salvam neste verdadeiro tsunami de lixo que é Michael são “(I Can’t Make It) Another Day” (veja aqui) , que traz a participação de Lenny Kravitz e exibe uma correta simbiose entre uma base dançante e roqueira com harmonias e melodias não mais que razoáveis, mas muito acima do nível do restante do álbum, e “Behind the Mask” (veja aqui), uma canção que não faria feio se tivesse sido incluída no já citado Dangerous. O encerramento do disco com o bundamolismo que Jackson impregna em “Much Too Soon” é bastante coerente com o que se ouve no restante do disco.

Que a alma do falecido tenha pelo menos um pouco de descanso depois desta presepada mercantilista.

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Fonte: Yahoo